Hoje a proposta do tema desta postagem foi feita pela querida Ju Toledo, do tão agradável blog "Le Monde est beau". A pergunta: "Quais os perfumes que te aquecem neste inverno?".
Confesso ser um tema confortável pra mim porque os perfumes invernais, quentes, pesados e orientais são sempre os meus preferidos. Assim, muitos perfumes aquecem-me quando o inverno chega e eu poderia falar de tantos deles (Bois de Paradis, Organza Indecence,Opium EDT,Dolce Vita, Cinema EDP, Fendi Theorema, Jungle L´Elephant, ...).Ocorre que, por serem tão especiais, cada um merece um post específico e então, eu escolhi apenas um deles para ser o foco no dia de hoje. Um perfume que me acompanha há muito tempo e pelo qual eu me apaixonei imediatamente: o Poison, da Dior.
Poison foi criado no ano de 1985 pelo mago (Só pode! Esse é mais que perfumista) Edouard Flechier. E numa dessas bençãos que ocorrem de vez em quando, o mundo foi presenteado com uma das poções mais escandalosamente magnânimas que um ser humano poderia conceber.
Uma profusão de notas florais intensas, madeiras e resinas que englobam: coentro, frutas vermelhas,ameixa, anis e jacarandá na saída, cravo(flor), jasmim,flor de laranjeira africana,tuberosa, opoponax,canela, incenso, rosa e mel no coração, além de vetiver, almíscar, sândalo, cedro,âmbar, baunilha e heliotrópio na base.
Quando de sua criação, em plenos anos 80, chocar era a ordem. Uma década de tantas criações de peso, originais, únicas e até hoje insuperáveis, fica difícil, dada sua majestade, admitir que Poison não veio para quebrar regras. Eu acho é que ele veio para compor de modo marcante e invulgar o cenário over daquela década tão especial. Mas uma coisa é fato, surgiu como representante de um estilo dark que só não enveredou para o total sombrio pelo fato de possuir notas adocicadas.
Eu o sinto em termos gerais como um perfume de absinto. Se eu pudesse simplificar o resultado de todas as notas, seria esse. Ocorre que o absinto nem figura em sua pirâmide olfativa. Pelo menos não abertamente. Caso eu tenha que descrevê-lo com mais cuidado, a minha impressão é de um perfume fortíssimo desde a saída, que é sintética, ou seja, tem aquela característica que remete a spray para cabelos, mas aqui de modo muito rápido e então surge um floral doce e potente. A flor que se destaca em primeiro lugar, e ao longo de toda evolução da fragrância, é o cravo. Sem dúvidas. Tuberosa e mel também aparecem reforçando o aspecto bem feminino da fragrância cuja evolução é concluída com um assentamento de canela e incenso sobre a pele. Tem duração e expansibilidade poderosíssimas.
Sobre seu belíssimo, embora simples frasco, já li que representa uma maçã envenenada mas também que poderia ser um coração enegrecido. Olha, eu gostei bastante desta última interpretação. E assim sendo, estaria o coração enegrecido pelo líquido tóxico e carregado de substâncias intensas que por ele transitam. Achei genial e inspirador!
Vale ressaltar que não conheci Poison de imediato, quando foi lançado, apenas anos depois. Antes de de fato tê-lo, eu havia caído de amores pela fragrância brasileira do Boticário, "Goldie", que foi claramente nele inspirado. Até hoje Goldie é meu perfume preferido e pelo visto sempre vai ser.
Todos os aspectos que circundam a criação desta quase que inenarrável invenção transbordam de excelência e muito mistério. Bem do jeito que eu gosto. Logo, Poison me prendeu sem cerimônias. Caí na teia.
A jóia que é este frasco!
E, na minha opinião, a melhor foto publicitária de perfume já criada. Linda, misteriosa, adequada e original. A janela entreaberta, refletida no espelho, e a disposição dos frascos dos perfumes sobre a penteadeira simulam a face de uma caveira, código universal do perigo, da morte. Coisa de mestre!
Poison
Um enigma floral
Sal sidérico em vinho tinto
O fruto é envolvente e carnal
De traço orgânico e sulferino
Assim passeia doce e fatal
O rubro fluido perigoso
Sua alquimia é musical
Num trajeto púrpuro e venoso
Cravo, anis e mel
Em botânica oculta e letal
Que se distanciam a cada passo
Do límpido sangue arterial
Entre a bruma do incenso químico
Entre a bruma do incenso químico
Brilha a flor de laranjeira africana
O corte cirúrgico do sândalo anímico
Exibe das coralinas frutas a membrana
Debate-se a presa em cianótico martírio
Debate-se a presa em cianótico martírio
No estertor da débil respiração
A proteção de um imaculado lírio
Talvez tivesse sido sua salvação
Em intenso torpor ele perde a consciência
A proteção de um imaculado lírio
Talvez tivesse sido sua salvação
Em intenso torpor ele perde a consciência
Reconhecendo da culpa a sua parcela
Envolto no jasmim de maliciosa dormência
Agarrando-se apaixonado à brônzea canela
E assim, perdido em escura teia almiscarada
E assim, perdido em escura teia almiscarada
Nem o próprio pulso pode sentir mais
Das garras dessa rosa despudorada
Não conseguirá se libertar jamais
Preso ao ângulo de um diedro
Não conseguirá se libertar jamais
Preso ao ângulo de um diedro
O crisol atinge tuberosa temperatura
O traço preciso do amuleto de cedro
Tatua na pele a imoral assinatura
O enxofre equilibra o mercúrio licoroso
O enxofre equilibra o mercúrio licoroso
Como na magia arcana de Paracelso
O talismã que abriga o líquido majestoso
É o lindo frasco de conteúdo excelso
E é com ele que a viúva negra lança seu feitiço
E é com ele que a viúva negra lança seu feitiço
Flores heréticas pregando desassossego
Até o pólen que se espalha em solo movediço
Até o pólen que se espalha em solo movediço
Foi trazido pelas patas de um morcego
Regozija-se o mártir nesse provocante pesadelo
Regozija-se o mártir nesse provocante pesadelo
Mas nem por um segundo deseja acordar!
Mantendo como único apelo
Mantendo como único apelo
Que ela possa devolver-lhe o ar
Mas agindo impiedosa como mortal cicuta
Sucumbe a vítima sem nada saber
Permanecendo oculto o enigma e a conduta
Restou-lhe como a Sócrates, morrer
Restou-lhe como a Sócrates, morrer
Hoje eu nem dividi o poema em estrofes porque Poison não te dá a chance de respirar. E exigente como é, precisamos de uma representante que transmita toda a fatalidade de sua venenosa química. E esse personagem é Carla Albanese, interpretada pela linda (e creio que a mais sensual atriz de Hollywood): a espanhola Penelope Cruz, no musical Nine de 2006.
No filme, Carla é a amante do personagem principal, o diretor de cinema Guido Contini (o sempre lindo,maravilhoso, estupendo, almiscarado, sexy e de sorriso perfeito Daniel Day-Lewis*). Dá licença, eu tinha que falar dele! Quem me conhece sabe da loucura que tenho por esse homem -ahahahhaha- ma-ra-vi-lho-so!!!. Eis então a vítima da provocante personagem que, nada ingênua, devia usar Poison!
Penelope Cruz em cenas de "Nine"
E mais uma vez eu convido meus leitores a navegarem pelos blogs e sites dos colegas que também se dedicaram a escrever sobre o tema de hoje. Cada um com seu estilo rico e muito próprio a nos ensinar (e influenciar) mais e mais sobre o mundo dos perfumes.
1)Beth do site "Perfume Bighouse"-www.perfumebighouse.com
1)Beth do site "Perfume Bighouse"-www.perfumebighouse.com
2)Cassiano do site "Perfumart"-http://www.perfumart.com.br/
3)Cris Nobre do blog "Templo do perfumes"-http://templodosperfumes.blogspot.com.br/
4)Dâmaris do blog "Village beauté"-http://villagebeaute.blogspot.com.br/
5)Dênis do site "1 nariz"-http://1nariz.com.br/
6)Diana do blog " A louca dos perfumes"-http://aloucadosperfumes.wordpress.com/
7)Ju Toledo do blog "Le monde est beau"-http://lemondeest.blogspot.com.br/