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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Exubérance- O Boticário

  O post de hoje é mais do que especial, é histórico. No dia 13 de outubro de 2014 abro o meu e-mail e leio uma mensagem inesperada e surreal que me dizia que eu seria a dona de um vidro do lendário perfume Exubérance, que O Boticário lançou no final dos anos 80(88 ou 89?).Frasco intacto, de colecionador, perfeito e com 80% de perfume preservado em seu interior.
Eu quase não pude acreditar nesta preciosidade que me chegava às mãos por intermédio do querido amigo Wagner, a quem venho agradecer por não ter se esquecido do meu pedido...Muito obrigada!


  O post é longo(e caduquinho, um pouco repetitivo, sabe?) mas eu preciso falar tudo sobre isso. Vem que tem!

  Falar sobre esse perfume é um prazer e um desafio também. Eu tenho aqui no blog um post dedicado ao Boticário onde cito os saudosos perfumes das décadas de 80 e 90 que eles fizeram o "favor" tenebroso de descontinuar. 
 Há muitas pessoas que reclamam dessas descontinuações em série mas nenhum dos perfumes da casa é mais desejado, lembrado, idolatrado e querido do que este. Quem o conheceu jamais o esqueceu.
  O primeiro contato que tive com esse perfume foi quando eu estava no ginásio e já usava os demais perfumes do Boticário citados. Lembro que houve seu lançamento e ele chamava muito a atenção como objeto de desejo das pré-adolescentes(de todo mundo na verdade mas quem tem 11, 12 anos quer ter 16, 17, 18) porque era um perfume mais sexy, mais voltado pra meninas quase mulheres. 
  Ele causou furor mesmo, a começar pelo frasco diferente, ousado, fabuloso. Opaco e leitoso, feito em opala com a pesadíssima tampa em pedra sabão, tinha ainda a etiqueta marmórea com o nome gravado.Lindo! Um show de design.Lembro também que era um pouco mais caro que os demais, talvez por conta do frasco mesmo.
  Aí, uma amiga resolveu participar do concurso Garota O Boticário, que ocorreu no ano de 1989, se não me falha a memória, e acabou não ganhando o concurso(quem ganhou foi a Cuca Lazarotto, que dois anos depois faria sucesso como VJ da MTV no Brasil) mas as garotas participantes ganharam, todas, o Exubérance como prêmio. Essa foi a primeira vez que o senti.
  Como a gente lamenta não guardar determinadas coisas...Eu sou do tipo que não suporto juntar velharias, guardo só o indispensável,mas os frascos do Exubérance e do Goldie eu senti não tê-los mais...
  Sabemos que a empresa, principalmente naquele tempo, fazia suas fragrâncias tendo como base inspiradora (não eram cópias) os mais famosos perfumes importados. Na época eu não sabia disso, eu era criança e depois adolescente, e segui usando as fragrâncias que eu mais gostava sem saber dessa associação.
  O meu preferido sempre foi o Goldie, baseado no Poison da Dior, o lindo Annete, que era o Anaïs Anaïs brasileiro, também o Malitzia, baseado no Giorgio Beverly Hills (fatos estes que só descobri bem mais tarde) e o Exubérance, o único que, até este ano,eu não sabia de fato em qual perfume havia sido inspirado.
  O problema é que não fui só eu. Parece que ninguém sabia que perfume era esse que havia servido de base para a feitura do Exubérance.
 Na internet há muitas reclamações sobre seu sumiço das prateleiras, principalmente no blog do Cris Bazoni, foco da maior concentração de pessoas falando sobre o assunto:
http://odorataparfums.blogspot.com.br/search/label/Exub%C3%A9rance
  O que eu lia era sempre a mesma coisa: " Amo esse perfume! Usei muito, é o perfume da minha vida, é perfeito, tenho saudades, daria tudo para tê-lo de novo, não me conformo com sua retirada do mercado" e..."Nunca conheci perfume igual na minha vida, sequer parecido!".
  Pronto, nunca ninguém sabia indicar um perfume que se parecia um pouquinho que fosse com o Exubérance, e assim íamos caminhando sem poder socorrermo-nos de uma fragrância importada que pudesse suprir a falta que ele nos faz.
  Tal assunto tornou-se uma pequena obsessão pra mim pois eu precisava descobrir, pra mim mesma e pra quem mais pudesse interessar, qual era esse perfume. Tratava-se de uma prestação de serviço social perfumístico, hahaha!
  Até que um dia conversando com a Vanessa Anjos (já em 2009!!) sobre esse tema que surgiu no seu site, "Perfume na pele", eis que ela traz uma luz à questão. Ela disse que ainda tinha um frasco guardado com cerca de 2 ml da fragrância e que o único perfume que ela achava que tinha alguma coisa do Exubérance era o Montana Parfum de Peau, que eu desconhecia. 
  Então eu perguntei se era igual a esse tal Montana e ela disse que igual, igualzinho não mas que eram muito semelhantes nas notas de saída.
  Toca ir atrás do Parfum de Peau! Não querendo esperar muito a chegada de uma encomenda internacional, acabei por comprar aqui no Brasil mesmo uma miniatura do dito cujo.
  Quando eu senti esse perfume eu fiquei enlouquecida!! Sim, parecia demais o Exubérance mas era mais forte, mais seco, mais incensado, assabonetado, "over" mas muito bem construído. Um bloco aromático da mais estupenda qualidade. Aquele elixir oriental e quente exalava na pele de modo tão envolvente que eu caí de amores e estupefação.
  Parti para a inevitável compra de um frasco grande daquela jóia da perfumaria, daquele escândalo alucinante em forma de perfume. E assim sou até hoje apaixonada por ele.
  Agora falo da questão que envolvia os perfumes que o Boticário fazia nos anos 80 e 90 e que fez com que eu, sentindo somente o Peau não tivesse "batido o martelo" sobre o fato de ter sido ele o perfume inspirador do Exubérance.
  É o seguinte. Como já citei, O Boticário não fazia a cópia perfeita do perfume importado base. E não, não é só saudosismo e idolatria. Eu sempre disse isso e continuo achando que os perfumes que O Boticário fazia eram melhores que suas inspirações porque ele usava mesmo uma fragrância como referência mas dava um toque diferenciado as suas composições.
  Quase todos eles eram mais ,não sei se suaves é a palavra certa, mas mais agradáveis mesmo, sem aspectos afiados, agudos, exagerados e focados em aldeídos, por exemplo. Longe disso, cada fragrância lançada era abrasileirada, talvez para funcionar melhor em nosso clima, não sei.
  Por esta razão eu tive uma certa dificuldade em aceitar que meu amado e gentil Annete (aquele do frasco marrom e fosco com tampa prata) era baseado no Anaïs Anaïs, porque Annete era melhor! Obviamente não me refiro às matérias-primas( como competir com Dior e outras g rifes de peso nesse aspecto?) mas ao aroma final mesmo. Tão cremoso, redondo, com cheiro de limpeza floral, de creme hidratante e assim...delicadíssimo!! Descobri que o Anaïs Anaïs vintage sim era lindo (e portanto mais perto do Annete antigo) e não o fabricado hoje em dia.
  O Goldie era o perfume de absinto perfeito! Doce acolhedor, quente como um abraço encantado e sem aquela sinteticidade que parece dominar o Poison, que acho maravilhoso, diga-se de passagem, mas Goldie era Goldie...
  Então, o Exubérance é o Parfum de Peau, eu venho aqui pra confirmar isso pra vocês, pra por fim a esse mistério, pra dar ao leitor interessado a chance de ainda acessar essa fragrância de alguma maneira. Era isso que eu precisava, acabar com essa dúvida, esse suspense, essa coisa horrorosa de ficar pedindo ao Boticário o relançamento da fragrância (se fossem espertos já o teriam feito!).
  Assim, como os exemplos citados acima, o Exubérance também, como perfeitamente descreveu a Vanessa Anjos (obrigada, Vanessa!!), é todo Parfum de Peau, principalmente na saída, mas nas suas notas de base e na própria evolução já percebemos uma diferença (bem sutil, ok?) que é uma composição mais frutal. Sim, Exubérance tem o seu desenrolar na pele mais leve e mais "jovem", mais alegre e colorido, voltado para uma luminosidade advinda de frutas, que eu arriscaria dizer serem tropicais, enquanto o Parfum de Peau foca muito no couro, no mel e no incenso (notas também presentes no brasileiro).
  Eu gosto de tentar descobrir as notas dos perfumes antes de consultar suas pirâmides, que é pra ver se acertei. 
  Quando soube que ia receber meu Exubérance, lembrei de uma conversa que tive com o Cris (Bazoni), quando ele disse que tinha um encarte do antigo Boticário onde constavam as notas de todos esses perfumes lendários. Então pedi pra ele me passar e ele passou as fotos desse catálogo e vejam só a descrição que o Boticário deu para o Exubérance:

"Uma delicada combinação de essências naturais com nuances chypre, notas de tuberosa, jasmim, musgo de carvalho e tons frutais". Tons frutais!!!!!!

  Depois de me apaixonar perdidamente (e não ficar sem) pelo Parfum de Peau, eu fui conhecendo alguns perfumes que consegui associar a ele, enfim, perfumes que acho muito parecidos,embora ele seja bem, mas bem superior a estes que citarei (comparem suas pirâmides olfativas e percebam as semelhanças das notas):

Parfum de Peau(Montana): Criado em 1986 pelo insuperável Jean Guichard, é uma fragrância assabonetada, incensada, intensa e intoxicante numa mistura poderosa de flores, frutas,especiarias, incenso e couro.

  • notas de saída: amora, gengibre, flor de laranjeira,pimenta, malmequer e groselha negra
  • notas de coração: patchouli, narciso, rosas e jasmim
  • notas de base: incenso, almíscar, âmbar e couro

Animale: Criado em 1987, este perfume é quente e bem forte, por isso é necessário usar muito pouco para que ele fique "bonito" na pele e não uma tragédia. Focado em notas de couro e mel, tem facetas arredondadas e enfumaçadas, formando uma espécie de aura pesada ao redor de quem o usa.Fez um sucesso estrondoso no final dos anos 80.

  • notas de saída:bergamota, neroli, jacinto, notas verdes,coentro e jacarandá
  • notas de coração:ylang-ylang, jasmim, raiz de íris, cravo,mel, rosas e lírio-do-vale
  • notas de base: coco, patchouli, almíscar, civeta, musgo de carvalho e vetiver

Rumba(Balenciaga): Criado em 1989menos doce que o Animale, Rumba foca mais no couro mesmo, é um perfume seco e com pontas mais afiadas e bem enfumaçado.Ele realmente é invasor, logo, costuma ser rejeitado. No caso é preciso ser usado mesmo em doses extremamente sutis.

  • notas de saída:flor de laranjeira, ameixa, morango, pêssego,manjericão e bergamota
  • notas de coração: mel, magnólia, gardênia, tuberosa, cravo,orquídea, lírio-do-vale, heliotrópio, malmequer e jasmim
  • notas de base: couro,sândalo, âmbar, fava tonka,patchouli, cedro, musgo de carvalho,baunilha, almíscar e styrax.
  Parfum de Peau, Animale e Rumba são semelhantes mas não iguais. E minha ordem de preferência por eles é essa. Eu sempre digo que apenas uma nota a mais, a menos ou em concentração diferente pode mudar tudo! E muda mesmo. 
  Só depois de sentir, usar, observar, deixar evoluir na pele, eu associei o Exubérance, não seu todo mas somente o drydown, a um outro perfume mais recente, criado em 2007, que é o Montaigne de Caron, criação de Richard Fraysse e cuja pirâmide olfativa é essa:

  • notas de saída:jasmim, coentro, laranja amarga,mimosa e tangerina
  • notas de coração:narciso e groselha preta
  • notas de base:sândalo, âmbar e vetiver
  Quem conhece sabe que é um perfume intenso, bem doce, abafado e que pra mim lembra na evolução aroma de borracha perfumada. É um pouco enjoativo até mas me fez lembrar o adocicado  que sinto no Exubérance.
  Falando somente agora do Exubérance, é dessa maneira que eu o sinto: floral branco oriental e apimentado entrecortado por cravo numa base amadeirada e adocicada que vai se apresentando ao longo do drydown. Bastante macio, eu sinto o tempo todo, desde a saída, a nota de ameixa acompanhada de incenso, couro e mel. Lindissímo!
  Além das notas declaradas pelo Boticário que compunham o Exubérance(jasmim, tuberosa,musgo de carvalho e tons frutais) eu apostaria em patchouli, baunilha, cravo(certeza)e frutas como ameixa(certeza),laranja e groselha negra.
  Por fim, o que tenho a dizer é : O sonho não acabou! Comprem o Montana Parfum de Peau e sejam felizes!



                                        Exubérance

                                   No santuário de opala  
                                   Repousava a líquida cabala
                                   O cimo de pedra sabão
                                   Coroando o mítico dragão
        
                                   Enamorou-se a tímida baunilha                  
                                   Do chypré musgo de carvalho
                                   A união foi selada pelo incenso
                                   Com alianças de sândalo e cravo

                                   De padrinhos, os gêmeos Castor e Pólux
                                   Brincavam num carrossel repleto de jasmim
                                   Ornamentados por ylang-ylang e tuberosas
                                   Recitavam um poema em mandarim

                                   Pegadas num pântano de patchouli 
                                   Marcavam o caminho pra lua de mel
                                   De Santelmo reluzia o fogo 
                                   Entre as asas negras de um corcel

                                   A viagem noturna guiada pelo animal alado 
                                   Seguiu sob densa atmosfera ardente
                                   Civeta e couro surgiram lado a lado
                                   Unindo-se em um dipolo-permanente

                                 
                                   Saboreando doces ameixas e groselhas
                                   Sob o som de harpas e violino
                                   Fizeram juras de amor eterno
                                   Brindando com licor de marrasquino

                                   Declaração de amor gravada em madeiras doces
                                   Com a seiva de carnais rosas aveludadas
                                   Até hoje permanece indecifrável o segredo
                                   Escondido em suas moléculas sagradas


  Link para o post do Boticário onde falo sobre os produtos antigos da marca, sobre as descontinuações e apresento material em fotos e vídeos dos anos 80 e 90.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Mesa redonda 9: Jour d´Hermes

  "O aroma da realeza: príncipes, princesas e perfumes." 
  O tema da mesa redonda de dezembro foi proposto pela querida Priscila Lini ,do blog Parfumée.
  Alguns perfumes poderiam ser atribuídos à realeza mas eu decidi eleger um aroma que me impressionou desde que o conheci. Um perfume da casa Hermés que, com toda sua tradição e qualidade, não decepcionou: Jour.
  Lançado no ano de 2013 e criação de Jean-Claude Ellena, Jour exala entre suas notas delicadas e de rara combinação um aroma superior, indiscutivelmente requintado. Ele traz uma mistura de caráter herbal que tangencia o conceito floral cítrico sem que se defina como um ou outro. 

  Sua pirâmide olfativa é a seguinte:

  • notas de saída: toranja, limão e notas aquáticas
  • notas de coração: notas verdes, flores brancas, gardênia e sweet pea
  • notas de base:almíscar e notas amadeiradas

  É nesse conjunto elegante de componentes que a fragrância revela aos poucos, durante sua evolução, uma faceta inesperada, levemente pesada e até mesmo empoeirada, que remete a cheiro de bolor e umidade. Nada contra, adoro essa característica nos perfumes.
  A fixação é muito boa e a expansibilidade idem. Creio que a fragrância passe uma mensagem de suavidade, mas na verdade este é um perfume intenso, focado bastante nas notas verdes e que deve ser usado com parcimônia para que a sinfonia equilibrada de suas notas possa ser apreciada com o cuidado que merece ser dispensado a ele.
  Assim, o refinamento deste aroma parece estar ligado a atmosferas frias, quase geladas,que remetem a musgos vivendo sob um céu cinzento. Para altas latitudes, Jour é mais que taiga, é quase tundra.




                                            Jour

                           Dagmar e Alexandre
                           Alexandra e Nicolau
                           Cinco herdeiros e um destino
                           Vida diamante, e morte de citrino

                           Nada parecia dar errado para a poderosa dinastia
                           O sangue eslavo dominava até o bruto alemão
                           Formando o amálgama da ortodoxa autocracia
                           Num bab´e leto* que nunca chegou a ser verão
                           
                            Todos sabiam que o maior tesouro da nobre corte 
                            Repousava nos genes de cada grã-duquesa
                            Olga, Tatiana, Maria e Anastásia
                            Encarnavam o puro odor da realeza

                            Algo assim como douradas folhas de bétula
                            Matizadas por líquens em frias notas d´água
                            Taiga verdejante de límpida floresta boreal
                            Sol da meia-noite em um frasco de cristal

                            E era entre pérolas e safiras que reinava a czarina
                            Sob um nevoeiro de almíscar e madeiras pesadas
                            Era o bafejo do terrível mago Rasputin
                            Que soprava do Rio Neva com suas águas geladas 

                            No palácio imperial a vida transcorria calma e serena
                            Até que a foice bolchevique feriu cada rosa do jardim
                            Era a Revolução Russa que impiedosa e violenta
                            Tingia de rubra a tão alva Rússia de marfim 
                               
                            As fúnebres flores brancas trouxeram um recado
                            Não havia saída nem ao norte nem ao sul
                            Pois o tempo de suas vidas sempre esteve marcado
                            No misterioso Relógio da serpente azul


bab´e leto: período curto de calor durante o outono russo, quando já devia estar fazendo frio. Veranico.
                                                               
  Jour d´Hermes é uma jóia e como tal poderia ser representado por outras jóias espetaculares, como os famosos ovos Fabergé, ricos por fora e por dentro, cuja tradição marcou a nobreza russa absolutista do século XIX e início do século XX, pertencentes à dinastia Romanov, e que alçaram o joalheiro Peter Carl Fabergé à fama perpétua. Nicolau II, mantendo a tradição paterna, encomendava dois ovos Fabergé por ano, uma para sua mãe e outro para sua esposa, Alexandra.
  E é justamente à peculiar nobreza russa Romanov que eu associei o aroma de Jour, com toda sua imponência e sofisticação mas que carrega no fundo de sua composição um toque sombrio e enigmático.
                                         
                                                     Família Romanov

                                                 Tatiana, Anastásia, Alexei, Maria e Olga Romanov
 A bela criança Marie Romanov.
Anastásia Romanov, quase uma lenda.
Palácio de Alexandre, residência oficial dos Romanov em São Petesburgo
O palácio de verão dos Romanov
Ovos Fabergé ( jóias da corte czarista). Este contém um relógio Vacheron Constantin em seu interior.
Ovo "Pedro, O grande"
Ovos "Senhora e Lírios", "Transiberiano" e "Palácio Gatchina"
 
                       
                     
                                                               O ovo "Relógio da serpente azul"
                                              

  Os blogs participantes da rodada desse mês de dezembro estão listados abaixo para que o leitor possa conhecer a visão de cada colega sobre o tema. Vale sempre a pena visitá-los!
  1. Beth do site "Perfume Bighouse"
  2. Carla do blog "Pimenta e Vanilla"
  3. Cris Bazoni do blog 'Odorataparfums"
  4. Cris Nobre do blog "Templo dos perfumes"
  5. Diana do blog "A louca dos perfumes"
  6. Priscila Lini do blog 'Parfumée"

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Mesa redonda 7: Quais perfumes descontinuados eu faria retornar ao mercado?

  Mais uma "Mesa redonda" com o tema proposto novamente por mim: "Se estivesse em suas mãos o poder de trazer de volta ao mercado algumas fragrâncias descontinuadas, quais seriam elas?"

  Essa não é a primeira vez que eu venho chorar aqui no blog sobre a descontinuação de perfumes. Problema nenhum porque o blog é meu e eu escrevo o que tiver vontade, eu faço a cena que eu quiser (Leoni) e garanto que essa é uma das minhas cenas prediletas porque eu sofro cronicamente dessa patologia que é a paixão pelos descontinuados (e infelizmente não são só perfumes! Parece que tudo que eu gosto, pode ser um cosmético, um alimento, tudo é retirado do mercado! Há ainda aquelas coisas que, por algum motivo,  eu achei genial e descubro que foi lançado em edição limitada.)
  Alguma maldição? Juro, eu podia fazer uma lista monstruosa de produtos do gênero descontinuados, mesmo que não interesse ao público perfumado.(Cadê o dextrosol? A barrinha de açaí da Trio? O hidratante Natural Honey da Revlon?A Cherry Coke? O queijo Sálvia Rex? Meu Wellamed herbal? Os produtos Botany & Tree?A pastilha de hortelã da Kids? O Pony MVP? O chocolate urso branco da Sönksen? As Mastiguinhas da J&J? Hum?)
  Por que que tudo que é bom tem que durar pouco?
  A minha lista de descontinuados, de perfumes que eu traria "à vida" novamente é grande e olha eu foquei realmente nos indispensáveis, ou seja, 23 perfumes de 17 grifes. Aqui vão breves impressões,até porque, como são os meus queridos, pretendo falar de cada um em um post específico, ocasião em que serão analisados com maior profundidade.

                                                                  Meus tesourinhos...

   
   Dos 23 perfumes citados eu não tenho 2 ainda: Tendré Poison e Fragile EDP. Os demais estão nesta foto maior ,que eu achei melhor tirar do que colocar a foto de cada perfume, retiradas da net, o que deixaria o post maior ainda,ou seja, inviável.

Armani

  • Gió : Gió é antes de qualquer coisa um perfume extremamente refinado. Floral branco encorpado e com destaque intenso para a nota de cravo em meio a frutas adocicadas, flores impetuosas e muito sândalo. Projeção e durabilidade assustadoras. Essa fragrância transborda elegância e é dona do meu coração há pelo menos vinte anos.
  • Sensi EDP : Mais um Armani que não consegue deixar de lado sua faceta elegante, Sensi EDP promove uma aura floral e impoluta dando a sensação de conforto típica dos perfumes "limpos", muito embora tenha um adocicado delicado e amendoado que o direciona à categoria oriental.
  • Sensi White Notes: É a versão mais luminosa e "aberta" do Sensi EDP. Quase que com um toque cítrico, eu costumo dizer que é a versão EDT perfeita de um EDP, o que é difícil de encontrar. Perfume requintado e ideal para o verão.Ambos os Sensis têm ótima durabilidade na pele.
Benetton
  • Colors vintage woman: Essa perfeição! Eu realmente fico mais intrigada com o fato de esse perfume ter existido do que ter deixado de existir. Como conseguiram fazer um perfume tão bom? Difícil descrevê-lo. Não tem absolutamente nada da nova versão, também gostosa, mas esse aqui é magnânimo. Ele é amadeirado frutal e doce. Com certeza há a presença da ameixa, pêssego e maracujá. A faceta doce é dada por mais que baunilha simplesmente,temos opoponax e até um toque de civeta. Olha, é um dos melhores aromas que já provei nesse mundo. Projeção grande e durabilidade maior ainda, permanece o dia todo e dá aquela vontade de ficar cheirando a própria pele. A gente sabe que está cheirosa com ele e os elogios são sempre certos. Queria um tonel de Colors vintage!
Cacharel
  • Nemo: Um dos melhores perfumes masculinos que já senti e que tem "pegada" niche.Incensado e doce, ele brinca com o olfato, desafia o conceito de perfume masculino sisudo e clássico e predominantemente amadeirado. Com couro e cardamomo, pimenta, noz-moscada e uma refrescante lavanda, Nemo foi uma ousadia, um "tapa na cara" da mesmice, do tradicional. De jeito que eu gosto. Nem precisa dizer que fui nocauteada no primeiro contato com esta fragrância.
  • Eau de Eden : A beleza etérea deste perfume já ganhou um post especial aqui no blog. Rosas verdes e cor-de-rosas misturadas ao próprio orvalho das rosas. Mágico, com cheirinho de talco, é como pó-de-pirlimpimpim num frasco enigmático de transparência azul esverdeada.
Chloe
  • Chloe Innocence :Sabe um perfume mimoso, delicadinho? É esse. Ele tem jeito de outono, de dias calmos, de fim de tarde. Leveza, limpeza, banho tomado, pele hidratada, roupas brancas pontilhadas de flores azuis claras. Tudo nele rescende a conforto. Eu sinto realmente pela sua descontinuação e de todos os meus perfumes é o que tenho mais dó de usar(coisa que não costumo ter), por medo que acabe. É muito raro e consequentemente,caríssimo.
Dior
  • Remember me: Frescor verde com o carimbo Dior de qualidade e refinamento. Foi uma descoberta prazerosa a existência dessa fragrância limpa e energizante. Não é alcoólico e nem tem jeito de cítrico clássico. Segue um estilo de composição onde o aroma final assemelha-se a uma loção hidratante cremosa. Lírio, jasmim, violeta, yuzu e raíz de íris causam esse bem-estar que a fragrância promove. Delícia confortável.
  • Tendré Poison: A família Poison é a família Poison. Tendré é meu segundo preferido do clã, o primeiro é o próprio Poison. Este perfume traz traços do seu ancestral mas sua alma é verde e assabonetada. Deste modo, é abafado mas as notas cítricas (tangerina e bergamota ) conseguem conferir à fragrância uma luminosidade peculiar. Acho delicioso e lembra demais o Cabotine de Grès, sendo que este é mais doce e mais floral enquanto aquele é mais refinado e aldeídico.
Escada
  • Escada Collection: Incrível esse perfume. Caramelo com uma cereja discreta que pontua a fragrância de tempos em tempos, como que querendo dar um ar frutal em meio ao aspecto enfumaçado. Envolvente, de projeção considerável, perceptível, mas que forma uma aura arredondada em torno da pessoa. Ameixas, rosas e madeiras doces também estão aqui. Eu acho que é sensual na medida certa. Comparam-no ao Botrytis de Ginestet, rico em mel,  e parece de fato mas, como sempre digo, várias notas semelhantes nem sempre causam o mesmo resultado em termos de encantamento. Tudo depende do quanto foi usado de cada elemento e da mistura deles com tantas outras notas que podem resultar num aroma tanto incrível como simples. Pra mim, Escada Collection é bem melhor que Botrytis que, além de tudo, tem a pachorra de sumir na pele.
  • Magnetism man: a primeira fragrância a ser resenhada neste blog me conquistou após uma compra no escuro e após ter lido maravilhas sobre. Super intimista, rente à pele e elegantérrimo,eu não sinto aroma de coca-cola e cereja ou qualquer aspecto sintético, como já andei lendo por aí. Pra mim ele tem um incensado queimado, couro com bálsamo de Tolu misturado a um adocicado recôndito e intrigante. Acho uma criação fantástica, de mestre mesmo.
Fendi
  • Theorema : Especiarias são a alma desse perfume sexy e quente.Picante, licoroso e amadeirado esta fragrância consegue encontrar o equilíbrio entre componentes tão marcantes sem fazer com que a pessoa sinta-se "temperada". Pense em pimenta, cravo, canela, cardamomo, noz-moscada, benjoim, pau-rosa, flor de laranjeira...E as notas quentes e doces não têm fim. Fabuloso!
Givenchy
  • Organza Indecence: As madeiras doces deste perfume encantaram-me de imediato. Reconheço-o com alma oitentista justamente por conta destas madeiras que encontramos facilmente em perfumes da década. O âmbar é bem presente mas o toque quente fica por conta da combinação perfeita de canela com baunilha. A durabilidade também é incrível.Fascinante!
Jean Paul Gaultier
  • Fragile EDP : Gosto da fragrância. Seca, classuda e tuberosa. No entanto ele figura na minha lista menos pelo perfume do que pelo frasco. Jamais, em nenhum tempo e em nenhum lugar seria aceitável a descontinuação de um perfume com um frasco tão belo. Eu queria poder vê-lo ainda nas lojas e poder entrar e comprá-lo sem ter que caçá-lo como se fosse artigo de antiquário.
Joop!
  • Joop Berlin: Um das minhas casas prediletas, Joop! soube me presentear com esta fragrância levemente doce e amadeirada, discreta e rente à pele mas de longevidade admirável. Ameixa, fava tonka, benjoim e caramelo estão entre as notas que com certeza fazem a diferença nesta fragrância tão especial.
Kenzo
  • King Kong: Todo o poder que uma fragrância pode guardar em suas moléculas revela-se aqui no emaranhado de notas unidas com maestria, que resultou num aroma único e viciante. Banana verde, cravo, hortelã, rosas, especiarias, musgo de carvalho e resinas. King Kong é compartilhável ao meu olfato e tem uma curiosa "nota" que lembra-me de combustível, mais propriamente, gasolina. A evolução é o melhor da festa. Vale a experiência. Amo!
La Perla
  • Eclix : Ensinando o que é ser gourmand com sabedoria. A presença de uma baunilha de baixo tom misturada a notas de cítrica leveza, confeito de amêndoas e mandarina aromatizados com essência suave de cacau. Conquista pela combinação delicada de notas de naturezas opostas e pelo caráter aconchegante e intimista.
L´Occitane
  • Eau de Vanilliers: a melhor baunilha entre as baunilhas, este L´occitane vem entrecortado pelo aroma fiel de orquídea.O perfume de baunilha mais gostoso que eu já senti, sem dúvidas. Lindíssimo e super concentrado, esse floral super doce só funciona bem em climas amenos. Descontinuá-lo foi um tiro nos pés.
Moschino 
  • Moschino Couture : Até o presente momento eu não conheci ainda uma pessoa que não gostasse desse perfume, e muito! Floral com bergamota, tangerina, pimenta, baunilha e benjoim, eu posso jurar que tem ameixa. O resultado aveludado e doce é encantador e esta fragrância possui certamente uma das melhores durabilidades já provadas por mim.
Oriflame
  • Nomadic : O que um Dior está fazendo em outra casa? Este é um dos mais gostosos perfumes do mundo. Fortíssimo, conjuga notas densas e quentes com outras abertas e frescas. Incenso e limão, baunilha e bagas de zimbro em meio à rosas, especiarias, ameixas e até pimentão vermelho! Uma potência avassaladora e que transpira qualidade. Compartilhável, a escolha das notas foi genial mas ainda mais foi sua elaboração, que conseguiu um resultado nivelado, onde o aroma de caráter smoky causa uma impressão una, sem arestas. Supremo!
Rochas
  • Byzantine : Feminilidade e discrição caracterizam essa belezura de perfume. Neroli, cedro, bergamota e sândalo marcam presença e há algo nele que me recorda o Organza (Givenchy), talvez no aspecto floral adocicado com uma pontada retrô quase que beirando o conceito "guerlanístico" do L´Heure Bleue. Sabe aquela baunilha? Pois é, lindo...Um outro perfume que me faz lembrar tanto do Byzantine quanto do Organza é o Guess Original, todos eles têm uma nota que parece xampu.
  • Byzance: Para os amantes de fragrâncias incensadas e assabonetadas, como eu, ele é o perfume perfeito. E ele é mesmo. A saída um pouco aldeídica pode assustar mas essa impressão passa rápido. Surge e permanece então a mistura aromática e abafada de flores, ervas, especiarias, folhas e madeiras a compor este perfume que expressa tão perfeitamente o DNA bizantino com cores, aromas e sabores intensos.
Tiffany
  • Tiffany Trueste: A joalheria Tiffany tem o poder de criar verdadeiras jóias e isto não fugiu ao campo da perfumaria. Trueste é o perfume perfeito. Floral frutal levemente quente que reúne flores brancas com rosas, ameixa e âmbar numa harmonia incrível. Elegantíssimo e de durabilidade extremada eu sempre me inebrio a cada vez que o uso. É realmente um privilégio tê-lo.
                                                              
                                                          Águas passadas

                                                       Um dia estava eu ali
                                                       Em busca do perfume escondido
                                                       Caçadora de emoções
                                                       De surpresas e de paixões

                                                       E quem não ama se apaixonar?
                                                       Quase todo dia e toda hora
                                                       De um amor que te faz mudar
                                                       Do cítrico limão pro doce vinho da amora

                                                       No passado remoto ou imediato
                                                       Eu investigo até encontrar
                                                       Qual o aroma concreto ou abstrato
                                                       Do antigo perfume a me conquistar
                                                                       
                                                       E uma coisa eu lhes garanto 
                                                       Quanto mais difícil, melhor!
                                                       Porque toda boa conquista
                                                       Nunca chega desprovida de suor

                                                       A abóbora encantada* foi a primeira
                                                       E nesta lista ela nem figura!
                                                       Iniciando a saga alvissareira
                                                       O tempo perpetua essa aventura
                                                       
                                                       O último levou-me ao Oriente 
                                                       Das fluidas rosas destiladas
                                                       Prestes a receber o abraço fremente
                                                       De mais uma fragrância festejada

                                                      E assim solto um grito quase rouco
                                                      Vejam só meu passatempo predileto!
                                                      Emoção compreendida por tão poucos
                                                      Eu me desdobro em perfumado dialeto
                                                             
                                                       Hoje eu não me vejo mais aqui
                                                       Em busca do perfume esquecido
                                                       Pois descobri que sou eu mesma
                                                       O verdadeiro caso perdido

* abóbora encantada: Alchimie de Rochas

   Os descontinuados são minha fixação. Em primeiro lugar porque são os melhores mesmo, em todos aspectos : pelas matérias-primas usadas, os estilos, as ideias, os frascos, o resgate de um tempo, perfumes de grifes relevantes para o mundo da moda e carregados de sentidos, a expressão criativa de cada um e o meu próprio gosto pessoal por perfumes intensos, orientais e marcantes. 
  Em segundo lugar pela surpresa e pela "caça"! A emoção de todo o processo de garimpo, de poder encontrá-los, além de todo aquele sentimento de comprar no escuro ou baseado em alguma lembrança ou referência. Então eu lamento também pela descontinuação daqueles que eu ainda não conheço mas desejo conhecer e quem sabe, caso me conquistem, tê-los. Exemplos: Catherine Deneuve, Moments (Priscila Presley),Maxim´s, Constellation (Paloma Picasso),Cinnabar (Estée Lauder),Tribu(Benetton), Cerruti woman(Nino Cerruti),Parfum d´Elle(Montana), Basala(Shiseido), C´est La Vie (Christian Lacroix), Eau de Dolce Vita(Dior), Dior me, Dior me not,entre outros.

PS: Não pensem que eu esqueci do Goldie e do Exuberance do Boticário não, tsc...tsc. Só não os listei porque mais uma citação dessas e eu já posso ser considerada parente do Norman Bates.

   Abaixo a lista de blogs participantes de mais uma rodada com o mesmo tema aqui abordado. Visitem e descubram quais são as fragrâncias saudosas para estes colegas!

1)Beth do site "Perfume Bighouse"-www.perfumebighouse.com
2)Carla do blog "Pimenta e Vanilla"-http://www.pimentavanilla.blogspot.com.br
3)Cassiano do site "Perfumart"-http://www.perfumart.com.br/
4)Cris Bazoni do blog "Odorata parfuns"-http://www.odorataparfuns.blogspot.com.br/
5)Cris Nobre do blog "Templo do perfumes"-http://templodosperfumes.blogspot.com.br/
6)Dâmaris do blog "Village beauté"-http://villagebeaute.blogspot.com.br/
7)Diana do blog " A louca dos perfumes"-http://aloucadosperfumes.wordpress.com/
8)Mariana Rocha do site "Estante perfumada"-http://http://www.estanteperfumada.com/
9)Priscila Lini do site "Parfumeé"-http://www.parfumee.com.br


sábado, 13 de setembro de 2014

Rose des Vents- Nord- Dorin

   A Maison Dorin conheceu a fama há tempos. Seu sucesso data do século XVIII, quando se tornou fornecedora oficial de perfumes para a corte de Versailles, tornando-se a marca favorita da nobreza da França, principalmente de Maria Antonieta e Louis IV. Fundada por Marguerite Brunet, conhecida como Madame Montansier, atriz e mulher de negócios,a Maison é uma das poucas perfumarias francesas que possui seu próprio museu. Suas fragrâncias são elaboradas com os mais refinados ingredientes vindos de Grasse, da Turquia e do Oriente Médio.
 Tive a oportunidade de conhecer um dos perfume da casa, do segmento niche, que desenvolveu uma linha de fragrâncias batizada de "Rose des vents", da qual fazem parte os perfumes: Est e Ouest ( para mulheres) e Nord e Sud (para homens). 
 Masculino, Rose des vents Nord , criado pela perfumista Nejla Barbir, responsável pelos perfumes da casa, tem como componentes as seguintes notas:

saída: bergamota, toranja, limão amalfi, limão tahiti, notas verdes, eucalipto e água do mar
coração: lavanda, gerânio, cedro da Virgínia, noz moscada, trevo,canela e manjericão
base: vetiver, almíscar, sândalo, patchouli,musgo de carvalho e âmbar.

  Classificado como cítrico aromático, Rose des Vents Nord é essencialmente verde e pontuado com ingredientes picantes que causam um resultado energizante, sem ser invasivo ou afiado. A saída é marcada pelo eucalipto, e sua evolução sublime conta com uma fusão de ervas e especiarias que se apresentam costuradas de modo artístico e cuidadoso. E é neste momento que notamos a presença do vetiver e da canela dando um toque colorido à composição.  A sensação ao senti-lo é quase que terapêutica.
  No drydown aparecem nuances amadeiradas e levemente almiscaradas que funcionam como uma segunda pele, bem leve e sutil. Sua durabilidade é mediana e exala com discrição.
  O frasco merece ser exaltado na sua singular beleza e originalidade. Perfume que é mais que conteúdo, serve também como peça de decoração, sem dúvidas.




                                                                     Casa Paraty                                                                      

                                                               Tua poesia é no concreto
                                                               O mar chega e te beija
                                                               Traz a cor do sal turquesa
                                                               Deixa marcas na areia
                                                               Que reverenciosas te saúdam
                                                               Orgânica e retórica
                                                               Geometria dextrógira

                                                               Dotada de pulsação magmática
                                                               Escultura viva ou arte estática?
                                                               E a destreza desta mão
                                                               Que num ato de avant-garde
                                                               Projetou o iluminado vão
                                                               De corar Lina Bo Bardi!
                                                           
                                                              O resultado foi um jogo de sentidos
                                                              Como brisa de vetiver com canela
                                                              Olfato comunga com visão e tato
                                                              Corro e olho pela janela
                                                              O sol arde em seu leito horizontal     
                                                              E num fresco cortejo animado 
                                                              Congratula cada ponto cardeal  

                                                               Admiro-te quase como um adicto
                                                               Busco o aroma do eucalipto
                                                               Da noz moscada e do limão
                                                               Busco o léxico e o semântico
                                                               Sopra o vento do Atlântico
                                                               Toda tentativa é em vão

                                                               Ainda procuro te entender
                                                               Deito e durmo, sonho e acordo
                                                               Não sei mais pra onde correr
                                                               A razão habita a estibordo
                                                               A rosa dos ventos indica o norte
                                                               Sigo as linhas do azimute
                                                               Encontro um díctamo de Creta 
                                                               Em um cálice de vermute

                                                               É assim que você me surpreende
                                                               E concluo que esse tipo de arte
                                                               Não se decifra e não se entende
                                                               E então eu sinto o tal quê de liberdade
                                                               Que cada traço conseguiu passar
                                                               E acaba que te reconheço de verdade
                                                               Nas verdes notas da água do mar

    Perfumes estão por toda parte. Eles podem representar uma pessoa ou um personagem, uma obra de arte de qualquer gênero e estilo, músicas ou até mesmo um lugar.
  E é assim que eu associo lugares especiais, com aromas próprios e personalidade, à fragrâncias que possam representá-los. 
  Amante que sou da Arquitetura, a Casa Paraty, projetada pelo fantástico arquiteto brasileiro Márcio Kogan, levou-me à inspiração para escrever algumas linhas sobre ela e o lugar em que está situada. O ponto de partida para este link foi outra obra de arte, um perfume, no caso o vaporoso Rose des vents-Nord, da Maison Dorin.
  Abaixo, imagens desse incrível imóvel, projetado para um jovem casal,e que abriga em seu interior uma coleção de móveis brasileiros da década de 60. Localizada em Paraty, o acesso até ela pode ser feito somente de barco.                                                     
                                          




Imagens retiradas do blog www.arquibrasil.wordpress.com